investir em startups e inovação

Como investir em startups? – parte 1

Ainda que o título deste texto seja “como investir em startups?, não poderia começar a explorar as formas de efetuar este tipo de investimento sem antes convidá-los a responder uma questão logicamente anterior:

Por que investir em Startups?

Para essa pergunta existem dois tipos de respostas:

  1. uma resposta mais “racional”, baseada em números e conceitos financeiros sobre a construção de um portfólio de investimentos;
  2. e, uma resposta de certa maneira filosófica, baseada na observação de tendências e numa narrativa esperançosa sobre o futuro.

Resposta “racional”:

O investidor ao montar sua carteira de investimentos deve diversificá-la, a fim de promover uma melhor gestão dos riscos e dos retornos, levando em consideração seu próprio perfil, bem como as características dos ativos escolhidos.

O aporte em startups oferece ao investidor a oportunidade de adicionar ao seu portfólio um ativo cuja curva de risco/retorno é assimetricamente positiva: o potencial de retorno supera, e muito, o risco máximo que ele suportará ao realizar o investimento.

Portanto, ainda que seja conhecido que apenas entre 10-20% dos investimentos em startups são bem-sucedidos, também é notório que quando esses investimentos triunfam, o fazem de tal forma que podem retornar aos investidores algumas dezenas de vezes o montante inicial.

Conclui-se que alocar uma pequena parte (algo em torno de 5-10%, a depender da sua tolerância ao risco e à falta de liquidez) do seu portfólio de investimentos em startups, pode melhorar a performance dele como um todo, agindo como verdadeiro agente estimulante de suas taxas de retorno.

Resposta “filosófica”:

Investir e adquirir participação em uma empresa é conquistar a oportunidade de fazer parte de um grupo.

Um grupo de pessoas, conhecidos como sócios ou acionistas, pessoas (idealmente) envolvidas e interessadas nos assuntos que dizem respeito àquela empresa.

Tratando-se de uma startup, a participação societária abre portas para o investidor:

  • beneficiar-se do desenvolvimento tecnológico e da inovação, não apenas como consumidor, e; 
  • fazer parte do “futuro” que a empresa almeja construir, o que permite o engajamento no como a empresa irá construí-lo.

A maior importância disso reside no fato de que, em muitos casos, os early investors têm bastante impacto no conjunto de valores, no direcionamento e êxito de uma empresa.

Ou seja, são pessoas com bastante poder quanto ao tipo de companhia que existirá futuro.

Em outras palavras, são pessoas com poder sobre as tendências e transformações da nossa vida pessoal e social (em seus mais diversos aspectos).

» Investir em startups, além de ser uma possibilidade de geração de riqueza, é sobre tomar atitude 

e participar do processo de construção do futuro que pretendemos ver «

Acredito que com essas duas respostas, você terá elementos suficientes para começar a pensar se investir em startups é algo interessante para você.

E agora podemos iniciar o tema protagonista deste texto: as formas de investir em startups! ??

Investimentos anjo

Um dos principais e mais conhecidos meios de se investir em startups é o investimento anjo.

Os investimentos anjo ocorrem quando uma pessoa ou empresa utiliza parcela de seu próprio patrimônio para financiar uma startup.

Esse financiamento ocorre em troca de participação societária ou promessa de futura conversão do aporte em ações ou quotas da startup.

Quando eles investem?

Usualmente, os investidores anjo investem em startups no começo de seu ciclo de desenvolvimento, na fase de ideação e início das operações, os chamados estágios embrionário e semente – pre-seed and seed stages.

Ou seja, investem em startups que:

a) não desenvolveram seu produto mínimo viável (MVP – minimum viable product); ou,

b) não encontraram seu PMF – product-market fit (adequação do produto ao mercado); ou,

c) conquistaram nenhuma ou pouca tração inicial; ou

d) não têm faturamento ou faturam quantias insuficientes para financiar suas atividades.

É daí que vem o nome “anjo”, eles salvam o fundador e sua empresa nascente da “morte” ao fornecer-lhes o capital necessário para sua sobrevivência e crescimento

Além do aporte de capital, tal como os venture capitalists (VCs), esses investidores oferecem às startups investidas seu conhecimento, experiencia e contatos – network.

O objetivo é agregar valor aos fundadores e à equipe da startup, ajudando-os a navegar pelas adversidades e a ultrapassar etapas importantes de desenvolvimento.

Em razão dessas características, i.e. o envolvimento indireto do investidor anjo na administração da startup e a mentoria oferecida por eles aos fundadores, o investimento-anjo também é conhecido como smart money (dinheiro esperto).

Quanto é investido?

A forma de atuação, a tese de investimento e os termos contratuais para realização do aporte são muito particulares de cada caso, variam de acordo com o investidor, a startup e as condições gerais da rodada de captação de recursos.

Do lado investidor as variáveis são, entre outras: a capacidade de aportes, a experiência, o planejamento do portfólio, as expectativas da pessoa e da sua capacidade de gerar um deal flow (fluxo de ofertas e oportunidades de negócios/investimentos) abundante e de qualidade.

Assim, os valores investidos por um anjo em cada startup também variam muito, aproximadamente, entre R$5.000 à R$300.000,00.

Segundo o levantamento feito pela rede de investidores Anjos do Brasil em 2020, o valor médio investido por ano por cada investidor anjo no Brasil chegou em 2019 a R$129.000,00.

Alguns anjos, pessoas com patrimônios mais elevados chegam a aportar sozinhos o valor total sendo arrecadado pela startup na rodada pre-seed.

» Já os anjos com menor capacidade de aporte não ficam de fora! «

É comum eles compartilharem a mesma rodada de arrecadação de uma startup com outros anjos e até VCs especializados em estágios pre-seed/seed, inclusive usando de sua rede de contatos para ajudar a startup investida a preencher a rodada de captação.

Mesmo com menos dinheiro à disposição para os aportes, o investimento anjo se mostra uma alternativa viável para que tem interesse em começar a investir em startups.

Só não se esqueça de fazer o planejamento financeiro e jurídico apropriado em conjunto com uma estratégia de investimento de longo prazo.

Outra forma de investir em startups é ao fundar ou se tornar sócio, parceiro ou investidor de uma aceleradora ou de uma venture builder.

Aceleradoras

As aceleradoras, como as americanas YCombinator e 500 Startups e as brasileiras ACE e Distrito, são empresas cujo objetivo é oferecer às startups um programa de aceleração intenso e pré-estruturado dentro de um ambiente propício para o seu crescimento.

Para ingressar em um programa de aceleração, as startups passam por um processo seletivo e as escolhidas recebem o auxílio para seu desenvolvimento. 

Durante o programa, a startup é acompanhada e recebe mentorias técnica, jurídica, administrativa e mercadológica necessárias para os passos seguintes ao desenvolvimento do MPV e aquisição de tração inicial.

O foco é na ampliação do número de clientes e aquisição de mercado, a partir do marketing e iteração dos produtos e serviço, bem como na preparação para obterem investimento de fundos de venture capital.

Junto da participação no programa de aceleração, a aceleradora também concede à startup o financiamento semente, em torno de R$25 mil à R$250 mil, apoiado por um contrato com termos pré-determinados pela aceleradora e semelhantes para todas as startups investidas.

Esse investimento tem o objetivo de possibilitar as atividades da startup durante o período do programa até ela estar madura o suficiente para conseguir levantar uma nova rodada de captação a chamada Série A.

Com isso em mente, ao final do programa cabe à aceleradora auxiliar as startups graduadas – como são chamadas as que finalizam o programa – a captarem investimentos. 

Assim, muitas aceleradoras fazem um Demo Day, um evento no qual as startups graduadas apresentam-se para o mercado.

No Demo Day, o objetivo é atrair a atenção e o interesse dos venture capitalists e da mídia.

Cria-se um atmosfera favorável para as startups captarem 

maiores volumes financeiros com valuations mais altos, 

inclusive valorizando o investimento feito pela aceleradora no início do programa.

Podemos ver que, diferentemente dos investidores anjo, as aceleradoras participam mais ativamente no desenvolvimento e gestão da startups investidas, precisando oferecer uma estrutura (inclusive física) maior e mais complexa para ajudá-las.

Agora, quanto às:

Venture Builders

As Venture Builders, também são conhecidas como Startups Studios, Ventures Studios ou Fábricas de Startups.

São empresas, em geral companhias holding que “fabricam” novas startups, usando suas próprias ideias e recursos.

Elas utilizam as mesmas técnicas de inovação e métodos de gerenciamento de processos usados pela startups, criando um ambiente propício para a eclosão de novas ideias e a lapidação das mesmas.

São cincos as atividades centrais de uma Venture Builder:

  1. identificação de novas ideias comerciais;
  2. formação das equipes, com membros que possuam conhecimento e experiência necessários para fazer a ideia se tornar uma empresa;
  3. obtenção de capital para financiar os empreendimentos;
  4. ajuda na gestão das startups, e
  5. fornecimentos de serviços operacionais (contabilidade, financeiro, jurídico, marketing etc.), os quais serão compartilhados entre as startups “fabricadas”.

Ao contrário das aceleradores, as Venture Builders não posuem programas pré-estruturados, com atividades a serem exeutadas pelas startups participantes em um período delimitado.

Em vez disso, eles mesmas geram ideias e designam equipes internas para desenvolvê-las (engenheiros, administradores, programadores, etc.).

Podem ser fundadas por empreendedores que possuam diferentes experiências e especialidades, que desejem embarcar em novos negócios com alto potencial de retorno.

Pâm, você esqueceu de falar sobre as incubadoras!

Elas não são uma forma de investir em startups?

Tradicionalmente não.

Isso porque usualmente elas não realizam aportes financeiros nas startups incubadas.

Ainda, mesmo quando elas realizam aportes, grande parte é vinculada a Universidades ou Órgãos Governamentais.

O propósito dessas instituições não é a obtenção de lucros e rendimentos diretos, mas sim o estímulo do ecossistema empreendedor da região, no longo prazo.

Elas querem favorecer a criação de empregos, oportunidades para os alunos das universidades e o desenvolvimento econômico.

No entanto, nada impede às incubadoras privadas o uso de um modelo similar ao das aceleradoras, com o aporte de capital em troca de participação ou futura participação societária.

Porém o foco das incubadoras é diferente das aceleradoras.

Seu objetivo é auxiliar, tanto com espaço e materiais, tanto com mentorias, as startups em fase embrionária, a explorar, testar e refinar suas ideias.

A incubadoras ajudam a chegar em um modelo de negócio apropriado e a desenvolver o produto mínimo viável.

Somente após a incubação as startups se candidatarão ao programa de alguma aceleradora.

Outras incubadas darão continuidade ao negócio de outras formas, como com a captação de fundos com os venture capitalists ou via bootstraping (utilização dos recursos pessoais do fundador).

Encerrando… só que não

Já falamos sobre três modos de investimento em startups ?
Porém, ainda, precisamos falar sobre mais três!
Mas, como este texto já se alongou demais, por hora te deixarei na curiosidade para saber quais são os outros. ??

Depois, falarei também sobre duas formas de apostar em inovação, sem investir diretamente em startups ou aportar em fundos de VC…

Por fim, preciso ressaltar que este texto não se trata de recomendação de investimento e que antes de seguir essas estratégias aconselha-se a obtenção de assessoria jurídica e financeira especializada, de pessoas nas quais você confia e que conheçam sua situação particular.

Até mais! ??

Pâm.

Uma resposta para “Como investir em startups? – parte 1”

  1. […] acesso a outras modalidades de financiamento ? uma startup tem acesso ao venture capital, aos investidores-anjo (tanto individuais […]

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *