Antes de começar, preciso fazer uma confissão.
Tive dificuldade para escrever este texto, não porque o tema dele é muito complexo ou chato.
Mas sim, porque vivemos rodeados por startups e notícias sobre startups.
» Hoje mesmo, no dia em que escrevo, ao entrar na padaria me deparei com a edição de fevereiro/2021 da revista Exame: 50 Startups que mudam o Brasil, a capa destacando entre elas a Ginger, e-commerce de moda sustentável da atriz Mariana Ruy Barbosa «
Por que falar sobre esse tema se, com certeza, você já o conhece ou pelo mesmo tem alguma ideia ou imagem formada sobre ele?
Quase desisti de escrevê-lo…
Mas ao pensar sobre essa questão, conclui que não deveria desistir.
Pois, ainda que você já tenha em sua tela mental uma imagem formada sobre startups, pode ser que ao ler este conteúdo você a repense e modifique, acrescente um novo conceito ou exclua algum que não serve mais.
Então, vamos lá!
Caracterizando uma Startup:
Startups são as pequenas e jovens empresas de tecnologia?
Não exatamente.
Várias empresas são pequenas, jovens ou de tecnologia. A presença dessas características, mesmo elas sendo recorrentes nas startups, por si só, não significa que uma empresa seja uma startup.
Uma startup é uma organização empresarial com grande potencial de crescimento rápido, modelo de negócio escalonável e repetível, alimentada por uma inovação, criada para resolver um problema ao apresentar uma nova oferta ao mercado, em condições de extrema incerteza.
Simplificando:

Inovação e Disrupção
A inovação é algo inerente às startups, é impossível caracterizar uma empresa como startup sem que ela inove em algum aspecto.
Grande parte delas inovam ao desenvolver novas tecnologias, criando produtos ou serviços até então inexistentes.
No entanto, muitas não inovam no produto ou no serviço, mas o fazem ao:
- Oferecer produtos existentes por novos canais inovadores;
- Modificar um modelo de negócio existente, adicionando valor antes não ofertado;
- Agregar produtos ou serviços existentes e transformá-los em uma nova oferta;
- Usar produtos ou serviços existente para atingir novos mercados, antes não explorados.
A UBER, por exemple ao pensarmos nela, podemos ver que não foi só o aspecto tecnológico da empresa que a fez tão inovadora.
Ainda que a tecnologia seja essencial para a UBER, o que a fez chacoalhar a indústria de transporte urbano de passageiros foi seu modelo de negócio, a solução que ela propôs ? oferecer:
- aos passageiros transporte pontual, mais seguro e barato, e de agendamento e acompanhamento instantâneos pelo celular e;
- aos motoristas a oportunidade de trabalhar sob uma marca reconhecida, de acessar uma massa maior de potenciais passageiros e de usar seu carro pessoal para ganhar dinheiro
E, é claro, que o aplicativo, a tecnologia desenvolvida pela empresa é extremamente importante, pois é o meio, a ferramenta que possibilita a execução e alimenta o modelo de negócio.
Ainda no tema da inovação, outra característica associadas às startups é a inovação disruptiva.
Mas, o que significa inovação disruptiva?
No mundo dos negócios, o termo “inovação disruptiva” foi cunhado em 1997 por Clayton Chistensen, professor da Harvard Business School, em seu livro The Innovator’s Dilemma.
Hoje em dia, o termo faz parte do léxico do mundo estudantil, empresarial e científico, bem como das mídias especializadas em tecnologia e negócios. É raro encontrar um artigo sobre startups ou tecnologia que não faça menção à inovação disruptiva.
No entanto, a utilização do termo acabou sendo tão disseminada que sua essência se perdeu. Ele passou a ser utilizado para descrever e analisar diversas empresas que, na realidade, não se encaixam no conceito.
Assim, em 2015, o professor Christensen escreveu um artigo para a revista Harvard Business Review, no qual ele critica a popularidade do termo, afirmando que o uso superficial e equivocado faz com que qualquer tipo de inovação ou mudança em uma indústria ou setor se confunda com disrupção, o que não é verdadeiro e pode ser prejudicial.
Segundo o professor e sua teoria da disrupção, uma empresa é realmente disruptiva quando:
- ganha o mercado ao conquistar seguimentos de clientes ignorados pelas empresas incumbentes, ou;
- cria um mercado antes não existente, ao converter não consumidores em clientes.
Ainda, são empresas que, inicialmente, não competem diretamente com os incumbentes, mas que ao longo do seu desenvolvimento, acabam por ultrapassá-los e torná-los esquecidos.
A importância de entender o conceito reside no fato de que categorizar uma empresa como disruptiva quando ela não o é, prejudica a avaliação da mesma, causando distorções nas análises, nas estratégias utilizadas pelos administradores e das expectativas dos investidores
Também, é importante entender a diferença entre inovação e disrupção para que você consuma o conteúdo sobre tecnologia, startups e negócios de forma mais consciente.
Não se deixe levar por descrições errôneas.
Evite cair na propaganda exagerada que abusa do termo disrupção apenas como argumento indutivo, e leva você a acreditar que algo tem mais valor do que realmente tem.
Uma forma mais simples de memorizar o assunto:

De resto, ser disruptiva não é um prerrequisito
para uma startup se tornar bem-sucedida.
Não importa se ela é disruptiva ou somente inovadora, é certo que, em ambos os casos, ela enfrentará inúmeros desafios e terá chances de triunfar.
Resolução de problemas
No contexto das startups, a inovação acontece porque o fundador, o idealizador da empresa, descobre uma forma de sanar um ponto de dor – pain point – um problema, de um grupo de consumidores.
Essa solução pode ser para:
- Resolver um problema já existente, como por exemplo, automatizar ou tornar uma tarefa mais rápida e fácil de executar, tornar um produto ou serviço mais barato e acessível, promover mais conforto, saúde ou segurança, aumentar a produtividade, ajudar o consumidor a economizar ou a ganhar dinheiro, entre muitos outros, ou;
- Antecipar uma futura necessidade.
Em ambos os casos, o problema resolvido pela startup pode ser algo:
- Conhecido e incômodo para os consumidores ? já existe demanda para sua solução, cabe à startup mostrar que sua oferta é única ou melhor do que as outras;
- Conhecido e não incomodo para os consumidores ? cabe à empresa induzi-los a se incomodarem com o problema e desejarem a solução ofertada ou;
- Não conhecido pelos consumidores ? cabe à startup induzi-los a acreditar que o problema existe ou existirá no futuro e que ele será bastante desagradável caso os consumidores não adotem, desde já, à solução ofertada.
Extrema incerteza
O empreendedorismo é sempre incerto.
Nenhum empreendedor sabe no começo de seu negócio se ele será bem-sucedido.
Será que conseguirei atrair e reter clientes?
Quando iniciará meu faturamento?
Conseguirei aumentar meus lucros?
Essas perguntas e muitas outras são constantes na cabeça de todos os empreendedores, ainda mais dos iniciam um novo negócio.
No entanto, as pequenas empresas, em geral, começam seu empreendimento com uma base de conhecimento já consolidada sobre o seu mercado de atuação.
Sabe-se quais são:
- os concorrentes;
- a aceitação do público para aquele tipo de produto ou serviço;
- os desafios regulatórios (se é que eles existem);
- a expectativa de retorno financeiro etc.
Ou seja, ainda que o sucesso seja incerto, os empreendedores desde o começo possuem informações relevantes, as quais os ajudam a prepararem-se para os desafios que enfrentarão.
Diferentemente, nas startups os elementos desconhecidos são ainda mais numerosos e incertos, existem muito mais perguntas do que respostas.
Os empreendedores iniciam sua jornada com pouquíssimas ou nenhuma informação sobre os desafios que irão encontrar.
Ademais, o processo de inovação é acompanhado de diversos fatores internos e externos que podem afetar o destino das startups e que não estão presentes em outros tipos de empresas.
No entanto, é na extrema incerteza que reside o combustível das startups.
Essencial para a sua propulsão ao sucesso.
Crescimento rápido
O sucesso nas startups significa o crescimento rápido.
Pelo menos essa é a convicção dominante no ecossistema de startups e venture capital até o momento…
O crescimento rápido pode ser tanto nas métricas financeiras quanto nas métricas de aquisição de clientes, as quais estão atreladas ao crescimento do valuation (“valor” das empresas – o preço que os investidores entendem ser o seu valor de mercado).
Por exemplo de métrica financeira:
Uma startup SaaS (software as a service – software como serviço) B2B (business to business – empresa que vende para outras empresas) com boa taxa de crescimento:
- seu faturamento recorrente mensal (MRR – monthly recurring revenue) cresce de 10-15% por mês a mês (MoM – month on month), e
- seu faturamento recorrente anual (ARR – anual recurring revenue ? ARR = MRR * 12) cresce 2-3 vezes ano a ano (YoY – year on year).
Como você deve estar pensando, essas métricas não são nada fáceis de atingir.
Então, como algumas startups conseguem?
Lembra quando eu disse que na extrema incerteza residia o combustível para o crescimento da startup?
Disse isso, pois, após muito suor dos empreendedores, quando se consegue ultrapassar certas etapas de incerteza, respondendo algumas perguntas que antes não tinham resposta, acende-se o fósforo… e
A startup começa a atingir o mercado de forma exponencial.
Falando em explosão
Um exemplo atual desse “fenômeno” é a startup americana Clubhouse, que iniciou suas atividades em maio de 2020 e com uma estratégia de “exclusividade,” em menos de 1 ano já possui 10 milhões de usuários ativos diariamente.
Porém, a maior parte desse crescimento ocorreu entre dezembro de 2020 quando o número de usuários ativos era de 600 mil, até o final de fevereiro de 2021.
Foi um crescimento absurdo de 16,67x em 2-3 meses (), o que fez com que o valuation da empresa fosse de $100M para $1Bilhão, crescendo 1.000% em menos de um ano.
Só posso imaginar a felicidade dos investidores
No entanto, acho que ainda não é momento deles festejarem…
Pois, por enquanto, não sabemos sobre dois pontos muito importantes: como os fundadores irão monetizar a plataforma (como vão gerar faturamento) e, ainda mais relevante no momento, se eles conseguirão reter todos esses novos usuários no médio/longo prazo.
Ficaremos de olho nos próximos capítulos dessa startup.
Voltando ao nosso texto.
A intenção dos fundadores
Acredito que um dos fatores mais importantes para uma empresa ser uma startup é a motivação de seus fundadores.
A intenção dos fundadores é a força motriz das startups!
Principalmente em estágios de ideação e desenvolvimento inicial.
É essa intenção que ditará a estratégia, o caminho, que a empresa trilhará.
Empreendedores cuja intenção seja a de ter uma pequena ou média empresa, estável e autossustentável, que sobreviva no longo prazo e que não precise testar, iterar ou comprovar seu modelo de negócio, não conduzirão suas empresas na direção de uma startup.
A motivação de um fundador de startup é a de:
- movimentar o mercado;
- crescer muito;
- incomodar as empresas incumbentes;
- comprovar seu modelo de negócio, e;
- atingir o maior número possível de consumidores,
Para enfim perder o “status” de startup, atingir o patamar de uma grande empresa ou ser adquirida por uma grande empresa.
Por que importa saber se sua empresa é uma startup?
Principalmente por dois motivos:
- o acesso a outras modalidades de financiamento ? uma startup tem acesso ao venture capital, aos investidores-anjo (tanto individuais como coletivos – grupos de investidores-anjo, como a GVAngels), e às plataformas de crowdfunding (financiamento coletivo, como a Captable);
- a tomada de decisões ? uma startup tem planejamento, projeções e organização diferentes de uma empresa tradicional, com isso em mente o empreendedor consegue tomar decisões mais conscientes, conduzindo a empresa para a direção desejada.
Por fim
Te deixo por aqui com a seguinte citação de um famoso empreendedor, escritor e investidor americano:
Traduzindo…
“(…) uma startup é uma organização temporária desenhada para procurar um modelo de negócio repetível e escalonável” – Steve Blank
Espero que este conteúdo tenha sido útil ou te acrescentado algum conhecimento.
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